Bruno Leite é um redator nascido e criado em Curitiba. Athleticano roxo (ou melhor, vermelho e preto), já passou por Getz, RMG, Housecricket, OpusMúltipla, Master, Heads e Mirum. Quando não escreve para propaganda, escreve seus livros autorais e, até agora, tem duas publicações: Contos, Crônicas e um Continente à sua Escolha e Jiraya de Mangas Curtas. O 7x1 ainda dói.
No começo da sua carreira, quem te inspirava? Pode ser publicitário, autor, diretor…
Nas aulas de redação publicitária, quem me fascinava era o Bill Bernbach. Ele mudou a propaganda mundial. O que ele fez foi espetacular. O Eugênio Mohallem também sempre foi uma grande referência, principalmente de humor na propaganda. E acho que ele fez os melhores títulos que eu vi na vida. Sempre quis escrever títulos tão bons quanto os deles. E tinham os ídolos próximos, que eram as pessoas que estavam um degrau acima em Curitiba. Mas que, teoricamente, eu podia alcançar. Hoje já não dá mais porque os caras ficaram muito bons, mas são o Marco Pupo e o Artur Lipori. Eles são um pouquinho mais velhos do que eu. E, quando eu via os anuários do CCPR, via que tinha a JWT com trabalhos fabulosos, mas produções muito grandes também. Enquanto isso, eu via o Artur e o Marco no anuário com ideias extremamente baratas, porque eles estavam em agências que não tinham tanto poderio financeiro, mas eles mostravam que podiam ser bons assim mesmo. Eles faziam a propaganda que eu poderia fazer. Por isso, foram os dois caras que mais me inspiraram. E hoje estão cheios de Leão, têm GP… Agora estão longe, mas já estiveram um pouquinho mais perto.

Bill Bernbach foi um lendário publicitário que revolucionou o a profissão. Criou campanhas históricas e é o "B" da agência (e agora rede) DDB. É considerado, pela Meio e Mensagem, a personalidade mais influente da publicidade.

Eugênio Mohallem é um grande redator publicitário com diversas premiações no mundo todo. É conhecido, principalmente, por seus títulos versáteis e repletos de humor.

Anúncio para We Are United com título de Mohallem.

Marco Pupo é um redator paranaense que, atualmente, é VP da Elephant, em Nova York.

Campanha para Fundação que visa prevenir a violência armada. 

Artur Lipori é outro redator curitibano com diversos prêmios ao redor do mundo. Atualmente é Diretor de Criação da McCann NY.

Refugee Nation é o projeto que deu voz aos refugiados nas Olimpíadas. Mais que isso: bandeira, hino e representatividade.

Você trabalhou na Getz, RMG, Master, Heads e Mirum. Dá pra dizer que você fez sua carreira em agências consideradas offline…
...eu acho meio ruim tratar assim (agências consideradas offline), porque todas essas agências também criam para internet, elas só não são especializadas em mídia digital. Elas criam um KV que será desdobrado em banner. E por exemplo, eu fiz um aplicativo na Heads, trabalhando no offline lá. Também fiz site. Então não digo que trabalhei em agência offline. Eram agências que não eram exclusivamente online.​​​​​​​

O aplicativo em questão é UBEZLEB, jogo cujo objetivo era descobrir quais eram as músicas tocadas ao contrário, para 91 Rock.

No caso, o site é uma plataforma que, a partir de suas referências pessoais, compara com todos os prêmios que já foram dados em Cannes

Quando você saiu da Heads, o que você sentiu de diferença para o digital e qual a diferença entre trabalhar majoritariamente com o off  e digital.
Eu comecei em agências mais digitais, RMG, HouseCricket e eu fui pras tidas como offline, mas que não faziam só offline. E aí eu voltei para uma agência exclusivamente online. O que eu senti de diferença é que eu imaginava que de 2010 até 2019 tinha mudado quase tudo dentro de uma agência digital, que não tinha nem resquícios do que era uma agência digital de quando eu comecei a carreira. Mas, na verdade, mudou muito pouco. Porque, fundamentalmente, pelo menos nessas agências onde eu trabalhei, a expertise é mídia digital. Se em 2009, 2010, eu fazia banner, hoje em dia eu faço post de Facebook. Mudou um pouco a mídia, mudou um pouco o formato, mas a essência não mudou muito não. 
Você acha que a alta demanda no digital dificulta o fazer criativo no dia a dia?
Você tem que ser mais rápido. Dificulta em partes. Você está em um lugar que tem muita gente. No Facebook você faz algo relevante, vai atingir muita gente e vai ver diretamente o que você está fazendo. E isso é muito legal. Por outro lado, no dia a dia, você tem que fazer 8 posts em um dia, então você não consegue fazer pensado com muito carinho, tem que fazer e ir pro próximo e aí a questão de tempo é o maior problema nesse sentido.
Qual é a primeira coisa que você faz quando pega o briefing?
Depende muito. Depende do prazo, se é uma campanha maior e tem mais prazo, eu procuro me inteirar ao máximo sobre o assunto. Se é algo mais rápido que eu ja estou inteirado, aí é sair fazendo. Depende do tamanho do trabalho.
Qual é sua ideia preferida na sua pasta e por que? Não precisa ser uma.
A ideia do precificador. Ela é uma derivação, não surgiu do nada comigo e com a Caro. Surgiu de uma continuação do que a Master já fazia. Se fosse em qualquer outra agência seria meio oportunista fazer. Mas estando na Master e continuando um raciocínio deles, eu acho bem legal. Até hoje é a ideia mais premiada do meu portfolio, é a que abre minha pasta, então ela tem uma grande importância na minha vida. A ideia do aplicativo do diabo foi a mais difícil de fazer. Demorou muito tempo. Eu acho a produção, direção de cena muito legal. Não teve o apelo popular que eu queria que tivesse, mas é uma ideia que eu gosto de ter feito. E, em terceiro lugar, é o filme do Doe Calor. É uma campanha que eu gosto muito de ter feito porque eu vi a minha priminha cantando junto com a TV sem saber que era meu. E isso é mais massa do que prêmio.

Precificador para o Dia Nacional do Combate ao Fumo para o Shopping Palladium. 

Campanha para Doação de Agasalhos - Doe Calor/Prefeitura de Curitiba

Quais são as melhores ideias que você já viu na vida em propaganda?
Dumb Ways to Die. Porque ela reúne uma simplicidade enorme. Ela é um jingle, muita gente tem preconceito com jingle, mas quando tem ideia é maravilhoso, foi extremamente popular, e qualquer pessoa de qualquer cidade poderia ter feito algo próximo disso. Tudo bem, aqui em Curitiba não tem metrô, a gente não tem esse briefing. Mas a gente poderia ter feito essa campanha para trânsito. Atravessar fora da faixa é um jeito burro de morrer. E aí, ter alguém que faça uma animação bonitinha, todo mundo tem como chegar. É uma campanha muito simples e que eu gosto muito. Eu também gosto muito de propaganda de antes de eu trabalhar com propaganda. Que são as campanhas que eu lembro até hoje que passavam na TV. Em geral as brasileiras. Vou destacar uma da Sprite: “Imagem não é nada, sede é tudo. Obedeça sua sede”. Essa é a que eu mais gostava antes de ver propaganda como profissão.

Dumb Ways to Die é uma campanha de conscientização/atenção na rede de ferrovias de Melbourne, na Austrália. O vídeo, de 2013, possui mais de 182 milhões de visualizações e até virou jogo para celular.

Imagem não é nada, sede é tudo para Sprite

Hoje, quem inspira você?
Hoje, publicitários, vários, mas vou dizer Antônio Prata. É um cara que escreve super bem, ele consegue ver a beleza das pequenas coisas do dia a dia, faz rir também e eu acho que o processo para ele escrever as crônicas dele, de bagagem cultural, é parecido com o que um publicitário tem que ter. Que é estar atento ao dia a dia, ver as pequenas verdades do mundo. Então eu coloco o Antônio Prata como o mais inspirador hoje.

Antônio Prata é colunista da Folha de São Paulo.

Alguns dos livros do escritor.

E um redator ou redatora?
Bom, já citei o Artur e o Marco, que continuam sendo. Mas agora vou falar bem de um amigo, que surgiu em Curitiba e que há três anos foi pra São Paulo. Agora está com dois GPs de Cannes na pasta e indo para Madrid. É o Guilherme Pinheiro. Ele mostra que dá pra sair daqui e conquistar o mundo em pouco tempo só com talento.​​​​​​​
Guilherme Pinheiro é um redator publicitário curitibano e que, aos 26 anos, possui 2 GPs no Festival de Cannes (o maior prêmio do festival), com projetos para Reclame Aqui e Nike.
E para terminar, alguma dica para quem está começando?
Bom, eu vou contar uma história de quando eu estava começando. Eu estava no 4° ano de faculdade, no último bimestre. E eu me candidatei pra uma vaga de estágio. Só que descobri que um redator da agência estava com LER e precisavam de alguém pra digitar pra ele. Como não tinha conseguido nenhum outro estágio até então, me candidatei. E eu não fui selecionado. Então, a minha dica é que, se essa é a sua paixão, se você quer ser redator ou diretor de arte e só toma pedrada na cabeça, vá em frente porque as coisas mudam muito rápido. Em um dia você pode não servir para ser o digitador de outro redator, mas no outro você pode viver dessa sua paixão e fazer o que gosta todos os dias. Se é o que você gosta mesmo, segue em frente.

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