Ana Dams já passou por Joinville e Curitiba e, atualmente, resolve jobs na Mirum Agency, enquanto ouve muito rap e tenta tornar o mundo um pouco mais feminista.
Quem inspirava você no começo de carreira?
Sinceramente eu nunca fui muito ligada em nomes de publicitários, nomes de agência, isso é uma coisa que eu sou meio fora da curva pra minha profissão. Algumas pessoas que eu admiro como escrevem, mas acho que mais que publicitários, eu me inspiro em escritores. Valter Hugo Mãe, provavelmente é meu escritor preferido, José Saramago, eu adoro o jeito como ele escreve. E, de novo fora da curva, mas eu gosto muito de rap. Pra mim, se relaciona totalmente com redação. Então letras de rap é a maior inspiração para escrever um manifesto, por exemplo.
Você fez faculdade e trabalhou em Joinville. Quais são as diferenças do mercado publicitário catarinense e o paranaense?
Era bem diferente. O jeito de criar é novo. Talvez seja muito mais correto do que aqui. Tanto que, quando vim pra cá, senti que tinha que aprender tudo de novo. A minha pasta era muito diferente, o jeito que eu duplava com alguém era muito diferente. Eu não sei como está hoje, mas na época que eu saí, senti que as coisas eram mais corretas e menos flexíveis.
Ao longo da carreira, você já trabalhou em agências digitais e offline. Você vê diferença entre cada uma delas?
Eu tive experiências em que eu não poderia pensar em digital e em outros jobs eu não poderia pensar em off. Eu sempre achava isso limitante, porque se você está no processo de pensar em algo, as coisas simplesmente surgem e o importante é que tudo esteja conectado, então eu não via muito motivo em não poder pensar em ambas as coisas.
O que mudou na criatividade na propaganda desde que começou a trabalhar?
Acho que a consistência sempre teve que estar presente. E cada vez mais essa consistência está se tornando essencial porque as pessoas não querem mais propaganda. [...] a gente tem que achar uma forma de tornar isso válido para as pessoas. O desafio da criatividade agora é fazer parte da vida das pessoas e fazer sentido na vida delas, não necessariamente só com uma sacada que vai ser legal. Eu acho que isso tem muito a ver com a propaganda ligada com conteúdo. É um conteúdo criativo e não uma fórmula pronta que a gente aprende na faculdade ou nos anuários.
Qual é a primeira coisa que você faz quando recebe um briefing?
Eu procuro qual é o problema principal. A frase-briefing que mostra o que precisa ser consertado, o que precisa ser melhorado. Porque é isso que gera as ideias mais legais. Quando de fato você quer resolver algo e tem um objetivo claro. Eu acho que é isso que deve ser procurado nos briefings, eu sei que às vezes não existe, mas o mundo ideal seria esse.
De todas as suas ideias,  qual você mais gostou de fazer e acha a mais legal?
Eu gosto muito do meu projeto pessoal MapMyself, porque eu acho que vai de acordo com o que a gente falou antes, é mais conteúdo e menos propaganda, tenho a chance de escrever coisas que eu gosto de escrever, que é sobre viagens e não necessariamente uma ideia ou sacada. Eu diria que essa é a parte preferida da minha pasta. Mas eu gosto muito de ver, por exemplo, Cultura Inglesa, não uma peça específica, mas sim o que foi construído para a marca ao longo do tempo. É a Profissão Perrengue, mas também é o Beyond Grammar, é entender que a gente conseguiu fazer algo legal com a marca, algo que ela não fazia antes.

Projeto pessoal - MapMyself

Cultura Inglesa - Profissão Perrengue

Cultura Inglesa - Beyond Grammar

Como você percebe que chegou em uma boa ideia?
Acho que a gente nunca sabe, né. Eu tenho essas fases, eu penso “essa vai”, mas no outro dia, ou quando chego em casa e conto a ideia, vejo que ela não é tão boa. E às vezes uma coisa que você acredita muito e conta para o DC e ele diz que não é nada daquilo. Ou até quando você não bota fé em alguma ideia, mas na verdade tem alguma coisa ali. 
Mas acho que quando você chega em uma ideia boa, dá um “calorzinho”, sabe? Você pensa “Opa, pode ser isso”.
Você tem alguma metodologia, algum processo que sempre faz? Seu processo criativo é mais caótico ou mais centrado?
Acho que começa caótico. É a folha em branco ali e eu gosto de escrever mesmo, no papel. Colocar as ideias na folha. Acho que uma coisa que ajuda é buscar dados, porque você acaba ampliando o universo da coisa que às vezes é pequeno, mas acaba ficando maior. E a outra coisa é falar umas besteiras, isso ajuda muito na parte de ter ideias. Isso é ter conexão com a sua dupla, porque você tem que se sentir à vontade para falar besteira. Isso é essencial também.
Se você pudesse mudar alguma coisa nas suas ideias, o que seria?
Eu teria pensado algumas coisas de uma forma mais digital e menos off, e isso a gente só percebe com o tempo. E acho que eu teria pensado menos em mim, do que eu acho legal, para pensar mais no que os outros podem achar legal. Mas agora, sendo um pouco mais específica, Lições de Ninar, por exemplo, eu teria não só adaptado as músicas, mas colocado um conteúdo super feminista e empoderador em todas as ideias, as letras seriam o que eu achava mais legal [...]. Tem algumas coisas que exigem algo mais porrada. E a gente insiste, e o cliente insiste e todo mundo insiste em fazer tudo mais leve porque ninguém tem coragem de comprar briga, e acho que algumas coisas merecem.

Lições de Ninar, para Bepantol® Baby, repensa canções com trechos que podem ser considerados machistas e agressivos.

A maioria de suas ideias vieram de um briefing fechado ou proatividade?
Eu acho que os briefings mais legais a gente inventa, ou reconhece oportunidade, como uma equipe de propaganda. Porque às vezes as oportunidades não vêm do cliente, vai de a gente explorar e muitas vezes mudar o briefing. Eu acho que é mudando o briefing que a gente consegue as melhores campanhas.
 E hoje, quem inspira você?
O André Kassu. Eu não busco, não estudo o que ele faz de fato, mas eu gosto do blog de textos dele. Outras fontes também, o podcast Mamilos. Eu curto muito as mulheres do podcast, A Ju Wallauer e a Cris Bartes. Porque hoje, pensando em jornalismo feminino, o que me inspira até para criar, inclusive, pela empatia que elas trazem, publicidade é muito isso, você conseguir se colocar no lugar do outro, empatia acaba sendo mais do que fundamental, é entender o que o seu cliente quer, do briefing que é mais social ao briefing comercial também, você entender qual a necessidade daquela pessoa.

Ju Wallauer e Cris Bartes são as hosts do Mamilos, podcast que trata semanalmente de assuntos muito comentados e polêmicos trazendo diversos pontos de vista com respeito e embasamento.

André Kassu é  um multipremiado redator que atualmente comanda a CP+B do Brasil com Marcos Medeiros e Vinicius Reis.

Anúncio para Billboard escrito por André Kassu.

#DicasParaQuemTáComeçando
Ler muito. Acho que redator tem que ler pra caramba, ouvir muita música diferente, muito filme diferente, não só os cults, que estão na lista dos cults legais, mas os trashs também, se munir de informação de fora, falar menos de publicidade no bar, falar mais sobre a vida com o cara que está na roda do lado, acho que é isso.

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